Espiritualidade

É Nosso Dever e nossa Salvação!

Muitas vezes vamos à Santa Missa, mas nosso coração está cheio de perturbações, distrações e tantas outras realidades. E com isso vamos vivendo de forma automática, respondendo as orações sem refletir o que estamos dizendo.

O que me consola é que, Deus nos salva com o Coração, pelo Amor que se une à nossa miséria, transformando-a, e muito mais, infinitamente mais, nos concedendo as riquezas do seu Coração. Isto é o que na teologia podemos sintetizar em uma única palavra: misericórdia.
Mas não posso achar que por Deus ser misericórdia eu posso continuar no erro, é preciso conversão.
Na oração do prefacio nós rezamos:

“O Senhor Esteja convosco. Ele está no meio de nós.”
Uma verdade, imutável, pois o senhor está no meio de nós… O Senhor está conosco em todos os momentos, mesmo quando não O percebemos. Ele nos traz esperança com a Sua Palavra, ensina-nos e dá-nos a direção para que não nos percamos…
Depois rezamos:

“Corações ao alto. Nosso coração está em Deus.”
Com isso eu pergunto, será que realmente o nosso coração está em Deus? Tanta agitação interior, tantas distrações, tantas vozes interiores que nos dispersam… precisamos nos rever…

Pois, se Deus está no nosso meio, nosso coração precisa estar Nele. Deixando de lado tudo aquilo que nos afasta d’Ele.
“Corações ao alto” é uma exclamação onde o padre e a assembleia eleva seu coração para o alto. Pois é o próprio Espírito Santo que age em nós na Santa Missa.

Somos chamados a elevar nosso coração ao alto. Diante desta realidade eu gosto de comparar nossa caminhada para o céu como uma escalada em uma grande montanha, não é fácil, subir, se não houver um preparo físico e mesmo assim, ainda tem seus riscos, seus desafios, pedras soltas, areias que muitas vezes nos levam a escorregar e cair… mas se desistirmos na metade da escalada não vamos contemplar a beleza da vista do alto da mantenha. Mas não estamos sozinhos, somos irmãos, somos um corpo onde a cabeça é Cristo.

Quando chegamos na metade da subida, onde já estamos cansados e muitas vezes esfolados pelas quedas, nosso irmão vem e nos ajuda a levantar. E isso nos dá um novo ânimo. Não estamos sozinhos. Temos os nossos irmãos, mas o mais importante é ter consciência que Deus está conosco, ao nosso lado. Quando tomamos consciência disso, percebemos que o maior movimento não foi a nossa escalada, mas o fato de que o próprio Jesus viveu outro movimento que chamamos de kenosis. Ele viveu o “coração embaixo”, pois se abaixou até nós e nos resgatou do “fundo do poço”.

Quando respondemos a oração do prefácio, “nosso coração está em Deus” eu preciso compreender este movimento de Deus, pois sua misericórdia eleva nosso coração para Si. Quando meu coração está em Deus sou levado ao encontro de meu irmão, com isso sou capaz de gerar vida e unidade e não divisão e morte.

Quando nosso coração está verdadeiramente em Deus, sou tomado por uma gratidão e por uma alegria que jamais o mundo será capaz de oferecer.
Jesus bate na porta de nosso coração diariamente querendo entrar. Quando a experimentamos uma revolução, uma verdadeira transformação, uma mudança de vida, ou seja uma metanoia (μετανοεῖν) metanoein: μετά, metá, ‘além’, ‘depois’; νοῦς, nous, ‘pensamento’, ‘intelecto’.
Quando abrimos a porta de nosso coração experimentamos a graça da cura interior, a transformação de nossa vida. Estar com o coração em Deus é também alcançar um coração feliz…

“Demos Graças ao Senhor, nosso Deus. É Nosso Dever e nossa Salvação!”

Quando rezamos esta parte do prefácio, precisamos ter consciência do que estamos dizendo. Pois, veja, dar graças a Deus é nosso dever e nossa salvação. E o padre ainda continua: “NA VERDADE, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo lugar…”

É nosso dever reconhecer os dons de Deus e dar graças por eles. Ou seja, precisamos ter o coração grato, sempre e em todo lugar. Por que é fonte de salvação e é nosso dever. Para você entender a importância da gratidão a Deus, vejamos um trecho do evangelho segundo Lucas:

“Sempre em caminho para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galileia. Ao entrar numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e elevaram a voz, clamando: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”. Jesus viu-os e disse-lhes: “Ide, mostrai-vos ao sacerdote”. E, quando eles iam andando, ficaram curados. 15. Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. 16. Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. Jesus lhe disse: “Não ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” E acrescentou: “Levanta-te e vai, tua fé te salvou”.” (Lc 17, 11-19)

Foram dez leprosos curados, mas apenas um voltou! Porque ele sentiu o dever de agradecer. Quando participamos todos os dias da Santa Missa vamos nos habituando às graças de Deus. Aquilo que é sobrenatural vai se tornando comum e com isso já não as admiramos mais. Como se tornou rotineiro em nossas vidas já não agradecemos mais a Deus e esquecemos que é “nosso dever e salvação dar graças a Ele”. Ter o coração grato é fonte de salvação para nós. Foi o que aconteceu com o leproso que depois de curado voltou para agradecer a Jesus. O único desejo do leproso foi com o coração agradecido conhecer aquele que o curou.

Precisamos reconhecer a necessidade de dar graças a Deus em todo tempo e lugar. Por que é dever e nossa salvação, pois é “justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças, sempre e em todo lugar”, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza…
“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21, 19b)

 

Padre Leandro P. Couto

Comunidade Canção Nova

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