NATAL: ESPÍRITO NATALINO E PRESENÇA DO MENINO DEUS
Estamos habituados a ver o Natal somente como um encantador Menino que sorri ou chora. Por isso, a única motivação que pode vir é o retorno à inocência verdadeira marcada na infância. Ao contrario, é um fato tremendamente sério e severo, pleno de pobreza e humilhação.
É a epifania, ou seja, a presença de Cristo, próprio neste nosso mundo empastado de problemas e de tragédias. Não nos convida a deixá-lo, para retirar-nos de um reino utópico criado pela fantasia, mas de buscar e encontrar Cristo onde vivemos, assim como é, e não como deveria ser.
Certo dia, o anjo Gabriel foi enviado a uma jovem chamada Maria, da cidade de Nazaré, para dar-lhe uma boa nova. Ela seria a mãe do filho de Deus. Logo após o anúncio, Maria foi à casa de Isabel, sua prima. Ao chegar, Isabel percebeu que havia algo especial em Maria. Era a presença de Jesus em seu ventre. Maria, por estar tão feliz, desejou que as pessoas conhecessem seu filho Jesus, que mudou a sua vida e a da humanidade. Ela canta, então, no seu Magnificat, a esperança de uma vida nova, com Jesus, para os que sofrem, os abandonados, aqueles que são esquecidos e para todos os que acreditam em Jesus. Mesmo sem ainda ter nascido, Ele era sinal de vida por onde sua mãe passava (cf. Lc 1,47-55).
No tempo do nascimento de Jesus, o imperador Augusto convocou o povo para um recenseamento. Com isso, José foi à sua cidade natal, Belém, e levou consigo Maria. Quando chegaram lá, não encontraram lugar nas hospedarias e foram parar num estábulo. Jesus nasceu ali, no meio do feno, entre os animais. O nascimento dele contagiou muitas pessoas; até uma estrela foi testemunha. Os anjos, cheios de alegria, anunciaram aos pastores o seu nascimento. Eles foram depressa até a estrebaria e encontraram o menino que, mesmo tão pequeno, mudou a vida deles; ganharam um novo motivo para trabalhar, cuidar dos rebanhos, viver…
Então, a única motivação que se pode vir é o retorno à inocência verdadeira da infância que, muitas vezes, é confundida com uma transferência de sentimentos ou situações confundidas e marcadas ao longo da nossa história. Ou seja, no Natal, queremos nós, muitas vezes, voltar a ser crianças, no atraente mundo das compras e gastos, no qual a desculpa (ou o culpado) é sempre o famoso “espírito natalino”.
A primeira coisa que posso dizer é que este espírito natalino não está nas lojas, nas festas, na ceia, na roupa nova ou no sapato novo. Então, onde está este espírito natalino, para que o possamos conhecer?
Com certeza está no coração de cada um que reconhece que o Natal só terá sentido se for cheio de, primeiramente, gratidão por um Deus que, ao amar tanto o ser humano, se fez pessoa. A gratidão nos leva a um segundo sentimento: a partilha. Ela não é apenas uma troca de presentes feita no popular “amigo secreto”, mas é um saber presentear. Não com aquilo que o outro quer, mas com o que o outro precisa. Por exemplo: há tantas pessoas ao nosso lado, às vezes na nossa própria casa, que muito mais que um par de sapatos novos, precisariam de um abraço de reconciliação. Do sentimento que nos leva à partilha nasce uma postura: da comunhão. Muitas vezes, no Natal, temos mais comunhão com as pessoas que estão conosco nas filas gigantescas das grandes lojas, do que com Aquele que realmente nos chama à verdadeira comunhão, que nada mais é que um pertencer a um Outro, e isto experimentamos maravilhosamente na Missa de Natal. Esta comunhão com Deus nos convida a uma comunhão com os irmãos.
Sobre Padre Anderson Marçal
Anderson Marçal Moreira é padre da Igreja Católica Apostólica Romana. Natural da cidade de São Paulo (SP), é membro da comunidade Canção Nova desde 2000. No dia 16 de dezembro de 2007, foi ordenado sacerdote. Estudou Teologia Pastoral Bíblica-Litúrgica na Universidade Salesiana de Roma.
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