Pesquisa mostra relação entre o consumo em São Paulo e a devastação da Floresta Amazônica

Milhares de quilômetros separam fisicamente a cidade de São Paulo e a Amazônia, mas elos comerciais entre as duas regiões são tão fortes que a voracidade dos paulistanos põe abaixo uma quantidade enorme de árvores a cada ano. Essa é a conclusão da pesquisa “Quem se Beneficia da Destruição da Amazônia“, realizada pelas ONGs Repórter Brasil e Papel Social Comunicação, por iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e do Movimento Nossa São Paulo.

Durante vários meses, uma equipe de repórteres percorreu a região da bacia do Rio Xingu, abrangendo os Estados de Mato Grosso e Pará. A pesquisa foi direcionada para três setores estratégicos na região – a pecuária bovina, o extrativismo vegetal e o plantio de soja e outros grãos -, além do financiamento público para atividades produtivas. O estudo aponta exemplos de negócios que têm na sua base produtores atuando de forma predatória, cujas matérias-primas chegam, direta ou indiretamente, a grandes redes varejistas, à indústria automobilística e ao setor de construção civil da capital paulista.

“Esse estudo não é uma acusação, senão teríamos de denunciar a nós todos que comemos carne de boi, usamos óleo de soja ou produtos feito de aço”, explica Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, um dos coordenadores da pesquisa. Ao rastrear a cadeia produtiva dos três setores avaliados, os repórteres estabeleceram a ligação entre produtores que cometeram várias ilegalidades ambientais e sociais e as empresas que os distribuem ao mercado consumidor paulista. Foram encontrados, por exemplo, produtores integrantes da “lista suja” do trabalho escravo, ou que desrespeitam a legislação ambiental, fornecendo carne a grandes frigoríficos que abastecem supermercados e restaurantes da cidade de São Paulo.

Em relação à madeira, mais de 80% do que é comercializado no Brasil vem de áreas de desmatamento. Algumas grandes empresas chegam a ter uma linha de produtos certificados, com garantia de que provêm de área de manejo sustentável, mas a maior parte de sua receita está em produtos feitos com madeira sem origem comprovada. “Eu tendo a dizer que a construção civil em São Paulo está baseada em madeira ilegal”, afirma Sakamoto.

O poder público, além de não conseguir realizar uma fiscalização efetiva sobre as práticas predatórias, às vezes ajuda a piorar o quadro, por meio do financiamento dessas atividades. Frigoríficos instalados na Amazônia, por exemplo, receberam crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Recursos com destinação semelhante vieram também da International Finance Corporation (IFC), o braço privado do Banco Mundial.

“Isso tudo é fruto de um modelo de desenvolvimento predatório, baseado na pilhagem dos recursos ambientais e da força de trabalho, e também da nossa necessidade de consumo e do lucro fácil perseguido por algumas pessoas”, avalia Leonardo Sakamoto.

Os coordenadores da pesquisa apontam a responsabilidade das empresas que adquirem produtos de fornecedores ilegais, mas destacam a necessidade de o consumidor ter mais consciência sobre a origem dos bens e serviços que compõem seu estilo de vida. Para Sakamoto, “o ato de comprar algo é político, pois você também está comprando a forma como aquilo foi produzido”.

Clique aqui para acessar a íntegra da pesquisa.

(Fonte: Instituto Ethos)

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