CRÔNICA DE UMA REPÓRTER PEREGRINA

Estive por cinco dias  no Centro de Mídia organizado para a realização do trabalho dos mais de  6 mil repórteres de cerca de 70 países, que se credenciaram para cobrir a JMJ Rio 2013. O maior e mais longo evento realizado pela cidade do Rio de janeiro, o que reuniu o maior número de estrangeiros neste país e o maior realizado pela Igreja Católica no Brasil.  O que estes recordes significam? Talvez não muita coisa! Como dizia nosso querido Papa Emérito Bento XVI, não devemos nos preocupar com quantidade e sim com a qualidade dos cristãos. Entretanto, os números mostram que o homem de hoje busca o Cristo e ainda acredita nele.

Como repórter e ao mesmo tempo peregrina, guardo destes dias lições do Papa Francisco,  que para mim resumem as grandes mensagens desta nossa Jornada:

Dinheiro e prazer são ídolos passageiros.  O Campo da Fé é cada um de nós. Jesus nos dá algo maior que a Copa do Mundo. “O futuro exige uma visão humanista da economia e a tarefa de reabilitar a política.” Não tenham medo de colocar Jesus em suas vidas. Ide, sem medo evangelizar. Vão às ruas. “Tenham a coragem de ir  contra a corrente e também tenham a coragem de ser felizes. Nisso peço que se rebelem.” Se rebelem contra a cultura do provisório que diz que vocês não são capazes de compromissos definitivos. “Vale a pena dizer sim a Deus!”

A maneira como alguns meios de comunicação seculares levaram as notícias realmente me impressionou. Certos comentários, crônicas e matérias  quiseram trazer “um outro lado da notícia” para dizer que este testemunho que demos não é tão eloqüente assim. Alguns jornais falaram que o Papa não tocou em temas “tabus”. Tabu para quem? A Igreja é muito clara a respeito de sua concepção moral, baseada na Palavra de Deus e não precisa ficar o tempo todo falando sobre os mesmos assuntos, os quais, quem tiver o mínimo contato com a Bíblia não tem dificuldade de compreender.

Participei da homilia da Missa de Envio presidida pelo Papa  Francisco no final da JMJ,  no meio das areias de Copacabana, e confesso que, de lá, fiquei admirada com o silêncio, a piedade e  a atenção com que os jovens assistiram  à celebração, ouvindo e acolhendo o convite do Papa de irem, sem medo, evangelizar. Orientações centrais deste seu discurso.

Por todos estes dias, andando diversas vezes entre os peregrinos, vi jovens entusiasmados querendo se engajar e darem seu sim à Deus. O que os atraiu para cá certamente não foi apenas a figura simpática do Papa, mas a própria doutrina e valores que ele representa.

O Papa Francisco veio dizer “não” à política corrupta, ao domínio dos que querem calar à Igreja e nos chamou à “Revolução da ternura”, à proximidade, ao encontro. Com o seu jeito de ser Francisco hoje, nos falou em gestos e deixou chocados homens e mulheres de diversas crenças e poderes. Usou expressões fortes, às vezes até começando o discurso em português e terminando em espanhol para ficar mais à vontade e não reter a espontaneidade bem própria ao seu sangue latino.  Reafirmou a doutrina da Igreja propondo uma mudança não nas estruturas, mas nas  posturas.

Francisco visitou favela, ouviu presidiários, dependentes químicos, doentes, padres, bispos, religiosos, casais, jovens da periferia ou das grandes capitais do mundo… Não teve medo dos desafios de uma cidade violenta da América Latina, andando de carro com vidros abertos, num Brasil ameaçado atualmente por atos de vandalismo por parte de quem não entendeu ainda o que é protestar.

E, para usar uma expressão de alguns colegas argentinos, isso tudo “não é marketing, é o Bergoglio de sempre!” Aquele que há 4 meses temos aprendido a ouvir e compreender.

Num pontificado ainda recente, o Papa começou a sinalizar o seu carisma específico e qual será a sua grande contribuição para a Igreja. Está nos propondo uma nova mudança. Talvez ele mesmo não tenha percebido, mas, de fato, bateu em nossa porta e nos falou como amigo, ouvindo nosso coração que ansiava por esta experiência de paternidade.

Elane Gomes

Missionária da Comunidade Canção Nova

Especialista em Cultura e Meios de Comunicação

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